Célia Cotrim
  • Home
  • Portifólio
  • Biografia
  • Publicações
  • Contato
  • Idioma: Português do Brasil
    • Português do Brasil Português do Brasil
    • English English

Probabilidades

LIVRO BRANCO_13web

Por acaso foi achado uma bolsa de óculos, de couro vermelha?

Sim.

Achamos e guardamos. Irei buscá-la, um momento.

No micro intervalo, entre a pergunta e o tempo de espera pela resposta encontraria motivos para pensar que tanto poderia ser positiva como negativa.

Mas o fato de ter sido positiva (pois a pergunta foi feita apenas partindo de uma dúvida, porque a memória não daria conta do dia da ação na qual a bolsa de óculos vermelha desapareceu, nem mesmo o espaço no qual ela poderia ter sido deixada) teria me dado grande prazer, pois iria rever um objeto especial, tido já como perdido.

Então a pergunta foi feita tendo por base apenas a hipótese de que aquele lugar seria um dos possíveis. E, partindo dessa premissa a pergunta foi formulada, mesmo sabendo que seria pouco provável o objeto ser reencontrado. Dependeria de muitos fatores.

O fato de ter tido uma resposta positiva para a pergunta, me fez pensar que tanto acreditamos poder crer como duvidamos poder crer.

Durante trinta dias um ser humano teria guardado algo insignificante de outro ser humano, desconhecido. Acreditando apenas que ele, algum dia, poderia voltar ali e perguntar-lhe: Por gentileza, por acaso vocês acharam uma bolsa de óculos, de couro vermelha? E então ele responderia:

Sim, achamos e guardamos. Irei buscá-la, um momento.

Célia Cotrim

fevereiro de 2015

http://www.celiacotrim.com/pensamentossonoros/wp-content/uploads/2015/04/Probalidades.mp3

Foto: Cristiane Geraldelli

PENSAR

Faixa de pedestre 4

 

Mais uma semana de vida.

Intoxicação de notícias, doença sem cura.

Na espiral dos acontecimentos me jogo e, muitas vezes, caio num abismo sem fim girando sem parar.  Os fatos inesperados sobrevoam sem trégua nem bandeira branca.

Uma avalanche que invade cérebros.

Então concluo que nada muda a realidade.

Que, o que me parece ser, ter mudado, é apenas minha falta de conhecimento, agora adquirido.

Penso que sou eu quem muda de verdades. O fato é sempre o mesmo em si, eu é que me espanto. E o que me faz parecer novidade é apenas uma verdade desconhecida.

As mudanças são alheias a mim e ao outro, a quem observo, e fazem parte de um contínuo.  Mas dependem de mim e do outro a quem observo: são apenas maneiras de olhar, de ver o mundo que exercitamos.  Os espantos são causados por um simples movimento.

Assim, creio que não mudo a maneira que penso, penso até também que o outro não muda, como penso. É o espanto que muda minha maneira de pensar.  Porque com o que me espantava eu me acostumo e talvez me acostume a não me espantar com o fato de que não consigo mudar.

Célia Cotrim

janeiro de 2015

http://www.celiacotrim.com/pensamentossonoros/wp-content/uploads/2015/04/pensar.mp3

 

Foto: Anabela Santos

O buda vermelho

parece-me-2010-parque-das-ruinas

 

Como tudo que começa inesperado

aguarda o que virá depois

na loja chinesa

entrando sem saber o que queria

pela vitrine de muitos budas

de pedras, quartzo rosa, jade,

encontro a risada vermelha do buda de lacca…

 

num piscar perceptivo  de apreensão através de uma experiência com pensamentos aleatórios (desses que invadem o cérebro, que aparecem e desaparecem num mesmo movimento sem serem notados por nós, e que podem também nos conduzir a ações que não conseguimos entender) no breve espaço de tempo durante o qual as certezas vislumbram aparecer, descobrimos que tudo parece ter explicação. Logo as dúvidas se reapresentam como se ali fosse o espaço para onde temos sempre que voltar, onde estamos acostumados a ficar.

Desse modo o que chamamos de certezas estariam no tempo e as dúvidas em um espaço, ambos se cruzam e consequentemente fazem parte de uma única coisa.

Célia Cotrim

outubro de 2014

http://www.celiacotrim.com/pensamentossonoros/wp-content/uploads/2014/10/P.S.o-buda-vermelho01-online-audio-converter.com_.mp3

 

parece-me, 2010

Foto: Cristiane Geraldelli

As palavras

quorassao

Ainda quero que as palavras comuniquem, mas elas não dizem mais…

Como me expressar se o recurso das palavras, o mais próximo, que me valia na situação extrema, não diz mais?

No desespero de me comunicar usando uma ferramenta esvaziada, desatualizada ou mesmo gasta, vejo que meu esforço é insensato. De tanto se falar, as palavras se desgastaram, de tanto uso sem sentido, elas não conseguem mais dizer-se.

Assim, é na observação, nesse ser sem ser, no desespero de tentar dizer algo que não mais encontro sentido, no recurso de dizer o que sinto que não mais sinto o que elas dizem:

– que não bastam mais estarem alinhadas, concatenadas, organizadas por pensamento, que perderam a força de expressão, de conjunto, que estão sós, imobilizadas por falta de sentido.

Não fazem mais sentido. Por mais que queiram, não dizem.

Ficaram ilhadas, soltas, envolvidas por um nada, não conseguem dizer-se, e por nada mais significarem, não mais expressam.

Assim, imunes a elas, não dizemos mais coisa com coisa que faça sentido, porque não mais nos habilitam a expressar coisa alguma, não mais estão dentro de nós, ficam apenas em si mesmas.

Célia Cotrim

agosto de 2014

http://www.celiacotrim.com/pensamentossonoros/wp-content/uploads/2014/08/palavras.mp3

 

Foto: Célia Cotrim

 

O espelho oval

img1img2

 

Minha pequena vida borbulhante de pensamentos.

O espelho não me diz quem sou, me esforço ao olhar para ele, dentro dele tento ver o que existe em mim, mas muitas vezes meus olhos vagueiam nos limite deste objeto de reflexão, meu espelho oval.

Incansáveis vezes não quero ver o que vejo ali refletido no oval do espelho. Saio do limite da reflexão do espelho e somente volto a olhar para ele quando me sinto mais segura para tentar ver de novo, mais profundamente o que antes não havia entendido.

Fico ali parada diante dele, perdida na figura que é minha, querendo me ver em mim mesma e me sentir bem com aquilo que vejo. Assim, de corpo e espírito. Faço sempre isso durante o tempo de vida que vivo na esperança de um dia encontrar em mim, na reflexão diante do espelho, o que acho que vou sempre procurar.

Vejo meus limites corporais no espaço limitado do espelho ovalado, o limite que faz de mim um indivíduo no mundo, mas a tridimensionalidade me impede de ver algo que espero um dia ter certeza que está em mim, embora não a veja refletida no espelho oval.

Assim, sempre volto a olhar no espelho oval da parede de meu quarto, a procurar algo, rodeando o ovalado limite do espelho com meus olhos para ver o que está lá dentro. Talvez nele eu possa entender que a reflexão através do espelho fica depositada em mim e refletida ao mundo pelos meus olhos, através daquilo que não consigo ver e que talvez eu não precise ver dentro do espelho oval, porque está em mim refletida.

Célia Cotrim

Junho de 2014
[sc_embed_player_template1 fileurl=”http://www.celiacotrim.com/pensamentossonoros/wp-content/uploads/2014/07/o-espelho-oval-02.mp3″]

Fotos: Cristiane Geraldelli

Pesquisar:

  • Pensamentos sonoros
  • Sobre mim

Posts recentes

  • Probabilidades
  • PENSAR
  • O buda vermelho
  • As palavras
  • O espelho oval

Arquivos

  • abril 2015
  • outubro 2014
  • agosto 2014
  • julho 2014
Idioma:
  • Português do Brasil
  • English
Copyright © 2017 Célia Cotrim. Todos os direitos reservados. Webdesign 3Dígitos